“Seja seu próprio banco.”
Este moto deu vida ao movimento das criptomoedas, com um sistema de dinheiro eletrônico p2p representando a emancipação dos bancos, e de todos aqueles que os controlam (ou quem eles controlam). No entanto, ser seu próprio banco não é o grito de mobilização política tanto quanto costuma-se pensar. Há muito mais por detrás do conceito.
Liberdade financeira quer dizer responsabilidade financeira e risco
A proposta principal do dinheiro digital p2p é a verdadeira liberdade financeira. Enquanto isso é, corretamente, anunciado como uma dádiva, não é de maneira alguma um remédio milagroso para todas as mazelas financeiras do mundo. Cada benefício tem um lado oposto; e, neste caso, o lado oposto é que a liberdade requer grande responsabilidade. Quando você é seu próprio banco, é você quem tem que garantir pessoalmente que seus fundos estão seguros. Você assume o risco de roubo ou má alocação. Você lida com os erros, garante que as transações são recebidas e aceitas pela outra parte, e gerencia suas próprias contas. Se qualquer coisa der errado, isso é problema seu. A liberdade de manter e controlar o que você ganha também quer dizer liberdade de ser defraudado ou falhar.
Para muitos, o “banco próprio” nunca será a melhor opção
Os hiper-individualistas talvez não gostem de admitir, mas liberdade absoluta não é para todos. Algumas pessoas são simplesmente ruins em tomar responsabilidade por seus fundos. Elas podem estar propensas a distrações e erros, podem não ser sagazes ou habilidosas na área de segurança, ou simplesmente não querem a pressão de lidar com grandes somas de dinheiro, ainda que sejam suas próprias. Para essas pessoas, todos serem seus próprios bancos não seria benéfico. Elas ficariam muito melhor e mais felizes com outra pessoa tomando conta disso para elas.
Serviços centralizados sempre terão seu lugar, e isso é bom
Já escrevi anteriormente sobre o quão lamentavelmente mal preparados para a soberania financeira estão muitos dos que pregam essa mensagem com confiança. A realidade é que, mesmo em um campo dedicado a criar formas radicalmente individualistas de dinheiro, uma variedade de serviços centralizados, semelhantes a bancos, surgiram, e os usuários das criptomoedas afluíram em massa para eles. Isto é porque sistemas confiáveis são valiosos em um mundo de outra forma suspeito. Como somos livres para fazermos o que quisermos com nossos fundos, somos livres para voluntariamente colocá-los em casas de câmbio com aqueles que ajudarão a gerenciar nossos fundos em troca de uma taxa e alguma confiança. A disponibilidade desses serviços não é só bem-vinda, como também crucial, contanto que usá-los seja uma escolha e não o único caminho disponível.
“Ser seu próprio banco” quer dizer que você não precisa de um
No final, o objetivo de ser seu próprio banco não é necessariamente fazer com que ninguém mais use serviços semelhantes a bancos, é para que ninguém precise deles. No velho mundo das finanças, um sem-banco terá uma dificuldade significativa em operar, e não terá nenhuma boa maneira de fazer transferências (principalmente através de longas distâncias), nenhum método conveniente de pagamento, e bem poucos métodos viáveis de armazenamento seguro. Resumindo, com moedas fiduciárias, você basicamente precisa de um banco. Usuários de criptomoedas podem escolher usar serviços centralizados, mas se eles escolherem não fazer isso ainda podem operar normalmente. A natureza voluntária de usar o serviço de terceiros é a verdadeira proeza.
Quanto menor a lacuna entre um banco e um banco próprio, melhor
Dito tudo isso, após viabilizar os bancos próprios, resta um último objetivo para libertar o mundo ainda mais financeiramente: tornar o banco próprio tão fácil e eficiente quanto possível. Baixar a blockchain inteira em um core client, copiar longos endereços criptográficos, e fazer backup de arquivos de carteira em armazenamentos externos fará os usuários de criptomoedas enfrentarem uma diferença significativa com a experiência de usuário de um serviço de confiança. Isto vai invariavelmente manter o número de bancos próprios mínimo, e levará muitos a priorizarem a conveniência sobre a soberania. Quanto mais essa lacuna for fechada, no entanto, mais escolherão a soberania financeira completa, e menos penosa será essa escolha.
Existem alguns serviços de terceiros, como a carteira Edge, que tentam fornecer uma experiência suave para o usuário enquanto ainda permitem a ele manter o mesmo tipo de controle garantido sobre seus fundos. Além disso está a próxima plataforma da Dash, apelidada de Evolution, que visa manter o mesmo tipo de experiência suave sem nem precisar usar uma carteira de terceiros. Se esta proeza for alcançada, a lacuna de praticidade entre os sem-banco e os com-banco será mínima, enquanto a lacuna de liberdade financeira permanecerá a oceanos de distância.